Aqui está um breve resumo sobre como a criança evolui em relação ao desenvolvimento de sua linguagem no primeiro ano de vida até ampliar seu vocabulário e formar frases.
Estas fases da linguagem podem ser resumidas assim:
- Primeiro trimestre (do nascimento até completar três meses de idade)
Linguagem pré-verbal: olha para a face das demais pessoas, vocalização (balbucio) e sorriso.
- Segundo trimestre (dos três meses até completar seis meses de idade)
Vocalização mais ampla e associada a expressões faciais e corporais.
- Terceiro trimestre (dos seis meses até completar nove meses de idade)
A linguagem se enriquece com sons silábicos cada vez mais expressivos e ricos (repetição de sílabas: ta-tá-ta ou ba-bá-bá ou ne-nê-nê, por exemplo, o que é denominado lalação); expressa-se com linguagem corporal e gestual.
- Quarto trimestre (dos nove meses até completar doze meses de idade)
Começa a linguagem simbólica, onde as sílabas ou palavras curtas estão vinculadas às pessoas ou objetos (ma-ma, pa-pa), pode manifestar a chamada “palavra-frase”, onde uma única palavra ou sílaba tem o significado de uma frase inteira (como “bola” significando “me dá a bola” ou “vamos jogar bola”, etc.). Neste período a linguagem compreensiva é muito mais ampla do que a expressiva (não fala quase nada, mas entende “tudo”).
- Segundo ano de vida
Após completar um ano de idade, há uma ampla variação no ritmo em que cada criança vai desenvolver sua linguagem. A maioria começa a pronunciar palavras e algumas a formar frases curtas de duas ou três palavras.
Desenvolvimento da criança: entre os três e os cinco anos
Esta é uma idade durante a qual os pais têm um pouco mais de tranquilidade em relação aos filhos, pois estes estão vivenciando uma fase mais estável, de mais independência e autocuidado. Já não é necessário um controle tão rigoroso, pois a criança tem um comportamento mais adequado, aceita compromissos e tolera períodos cada vez maiores longe dos pais.
Entretanto, em muitas crianças são frequentes avanços e retrocessos nos comportamentos (ora agindo como crianças menores e ora com mais maturidade).
Nesta idade a criança tem um acentuado desenvolvimento nas áreas de linguagem, coordenação e aprendizagem. Desenvolve a capacidade para usar símbolos em pensamentos e ações e consegue lidar melhor com conceitos como idade, espaço, tempo e moralidade. Entretanto, não separa ainda o real do irreal e grande parte do seu pensamento é egocêntrico (é incapaz de considerar o ponto de vista de outras pessoas).
A criança demonstra uma evolução significativa na interação com outras crianças e adultos e aprende funções consideradas adequadas ao papel sexual, bem como comportamentos socialmente aceitáveis. Assimila também o conceito de certo e errado, bom e ruim, embora ainda tenha dificuldade para entender as justificativas para estes conceitos.
É frequente a criança desta idade assumir o sentido literal das palavras e frases e gostar de contar histórias da família sem inibição ou “censura”.
Esta é a fase típica dos “por quês”, pois a criança frequentemente demonstra curiosidade e interesse por tudo o que ocorre a sua volta.
O desenvolvimento rápido da linguagem e a dificuldade para coordenar pensamentos e verbalização provocam uma gagueira normal, que irá diminuir e cessar com o passar do tempo. É normal também nesta idade a criança ter uma fala com troca de letras (“b” e “p”, por exemplo) e sílabas (“mánica” em lugar de máquina).
As brincadeiras agora são mais organizadas e cooperativas entre as crianças (brincam juntas, cooperam e interagem umas com as outras). A fantasia e o “faz de conta” estão muito presentes o que faz a criança muitas vezes confundir as brincadeiras com a realidade. Os amigos imaginários também são frequentes nesta idade.
Também nesta idade a criança demonstra medos relacionados à fantasia e à imaginação (do escuro, de monstros e de fantasmas, entre outros).
No final deste período a criança está pronta para ingressar no sistema formal de ensino e iniciar o processo de alfabetização.
Crianças entre 2 e 3 anos frequentemente apresentam disfluência (gaguejam), mas isto geralmente é normal e transitório.
Muitas crianças entre dois e quatro anos de idade apresentam episódios de gagueira ou disfluência (repetição de sílabas ou palavras). Geralmente estes episódios são transitórios e duram poucos meses, ocorrendo em consequência de uma combinação de vários fatores que interagem entre si durante o desenvolvimento da fala. Um destes fatores é a presença de um raciocino mental muito mais veloz do que a capacidade de articular palavras e organizar frases nesta idade.
O rápido fluxo de pensamentos, geralmente associado à ansiedade para contar rapidamente algo importante ou que impressionou muito, também contribui para que a criança apresente alguma dificuldade para produzir um ritmo regular e suave em sua fala. Esta disfluência pode aumentar quando a criança está ansiosa, cansada ou doente e quando está tentando dominar muitas palavras novas.
Os pais podem ficar tranquilos quanto à excelente evolução deste distúrbio transitório da linguagem e devem ser orientados a não interferirem ou chamarem a atenção para o fato. Sua contribuição estará em proporcionarem como exemplo uma linguagem simples e com fluxo calmo, assim como terem paciência e tempo disponíveis para permitirem à criança organizar a coordenação de seus pensamentos com a fala. Pais ansiosos quanto ao fato do filho gaguejar pode acentuar uma característica que irá desaparecer naturalmente.
Uma minoria das crianças que apresentam disfluência nesta idade, cerca de 1 ou 2%, necessitará de tratamento especializado. Estes poucos casos, que persistem por mais tempo do que o habitual, podem estar associados a uma história familiar de gagueira, sugerindo uma predisposição hereditária.
Uma característica que pode estar relacionada com a tendência da gagueira tornar-se um problema persistente é a percepção pela criança da dificuldade para articular as palavras, gerando sinais de ansiedade como fazer caretas, ou bater o pé. Nestes casos, onde a criança tem consciência do problema e percebe que sua fala está sendo julgada como fora do padrão normal, ela pode ter sua auto-estima prejudicada.
A disfluência que persiste após os cinco anos de idade, está associada a outros distúrbios da linguagem ou quando a criança manifesta preocupação quanto ao fato de estar gaguejando necessita de avaliação e tratamento.
Uma pesquisa publicada na revista Pediatrics (janeiro de 2009) realizada com 1619 crianças australianas com menos de 3 anos de idade mostrou um percentual de 8,5% de casos com gagueira confirmada. A idade média de início foi de 30 meses de idade. A maioria dos pais observou o início da gagueira quando a criança começou a unir três ou mais palavras numa frase. Um grande vocabulário da criança foi associado a maior incidência de gagueira na criança pequena.
Esta pesquisa reforça a necessidade de os pais e outros profissionais que cuidam de crianças estarem cientes de que o fato da criança começar a gaguejar antes dos 3 anos de idade é muito frequente (especialmente em crianças com amplo vocabulário), casual (não é uma característica constante na fala da criança) e desaparece com o tempo.
Jorge Montardo
Médico Pediatra / Mestre em Educação
Fonte: Aprendendo a vida: Divulgue, reproduza, mas plágio não!