quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Pais de bem com a espiritualidade, filhos de bem com a vida


Por Adilia Belloti

A gente sabe tudo sobre educação de crianças, psicologia infantil, comportamento de adolescentes, não é? Está tudo ao alcance da mão. Basta um clique (literalmente) e um universo inacreditável de informações cai no nosso colo.
E lá ficamos nós, engolidos em perplexidade, perguntando: "Afinal, com tantos recursos, com tanta informação, por que a gente não acerta sempre? Por que temos essa sensação de que alguma coisa saiu errada?
Filmes como Kids (lembra desse?) ou como um outro que meu filho de 18 me fez assistir, "Réquiem" para um sonho, mostram crianças e jovens jogados em um mundo sempre muito escuro e do qual eles mal se dão conta, tão intoxicados pelas drogas e pelo escapismo mais brutal. Como foi que aqueles bebês risonhos cresceram para ficar assim? Onde foi que perdemos contato com eles?
Ninguém discute que somos todos bem-intencionadas criaturas que procuram dar o melhor para seus filhos. Então o que é que pode estar faltando? Para alguns estudiosos, a resposta é clara: no afã de prover os filhos com tanto conhecimento e tantos cursos, brinquedos, treinos, aparelhos, idiomas, os pais esqueceram de olhar para dentro de suas crianças e enxergá-las como verdadeiramente são: seres espirituais.
Nessa linha de pensamento, Mimi Doe, uma especialista em educação e autora de vários livros e de programas infantis não-violentos para a televisão, faz uma afirmação inspiradora: "A espiritualidade é a base a partir da qual nascem a auto-estima, os valores, a ética e a sensação de fazer parte de algo. É a espiritualidade que determina o sentido e o significado da vida". Bingo!
Outros estudiosos fazem eco. Spiritual Parenting (uma expressãozinha difícil de traduzir, mas que significaria algo como paternidade/maternidade espiritual), é uma idéia que abre muitas possibilidades e já aportou por essas nossas bandas, alguns textos publicados em português.
Peguei o livro de Mimi Doe para ler, confesso, com um pouco de desconfiança (detesto livros de fórmulas prontas, são um insulto para a nossa inteligência!).
Não fiquei nada decepcionada. Ao contrário, o livro é cheio de idéias para a gente resgatar o caráter sagrado dessa tarefa tão antiga que é criar filhos.
Houve um tempo em que nossos filhos eram nossa única garantia de imortalidade. Através deles, nos sentíamos projetados para o futuro, elos de uma cadeia sem fim. Os gestos repetidos, os ensinamentos, os exemplos, as histórias contadas, as receitas, as festas, as tradições, tudo era parte de um legado que transmitíamos às crianças, mas que, na verdade, não nos pertencia.
Os pais eram uma ponte entre o passado e o futuro. E criar filhos era transmitir a herança da espécie, da melhor forma possível, porque cada um dos nossos atos era apenas um movimento na grande dança do universo.
A proposta de Mimi é resgatar esse sentimento de que educar filhos pode ser, ainda hoje, um verdadeiro milagre. Não, não é nada esotérico, nem específico dessa ou daquela religião. Ao contrário, abrir um espaço para a espiritualidade na relação com as crianças é fazer coisas simples, como criar um ambiente agradável e receptivo na hora do jantar ou marcar um dia por mês para um "estar em família" diferente. Juntos, talvez você e ele se animem a aprender a meditar, a valorizar a bondade e a compaixão através das boas ações, a tirar da gaveta aquela idéia de participar de um projeto comunitário.
Uma outra idéia importante: deixar que nossos pequenos nos inspirem. Eles são naturalmente conectados com essa forma de espiritualidade. E se estivermos mais atentos, podemos aprender muito com a sua poderosa intuição.
Hugh Prather, um outro autor, confirma que essa é a primeira regra de ouro para quem quer se tornar um pai (ou mãe) mais espiritual: as crianças estão próximas de Deus e podem nos ajudar muito a encontrá-lo. Isso não quer dizer que elas não precisem de disciplina, de orientação ou de firmeza. Mas significa que ser pais não nos torna automaticamente sábios e que devemos ir com calma antes de achar que sabemos sempre o que é melhor para as crianças. Na verdade, nós apenas percorremos juntos a mesma estrada e fomos os escolhidos para a posição de guias não por sermos superiores, mas porque conhecemos melhor o mundo. Só por isso. Do ponto de vista de Deus, esse bebê que você segura com tanto cuidado, pode ser tão sábio quanto você, mesmo que seja sua a função de amamentá-lo e de cuidar dele até que ele possa fazer isso sozinho.
Vamos conversar mais sobre isso qualquer horinha, mas, por hoje, pincei algumas idéias do livro de Mimi Doe para compartilhar com você.
1. Deixe de lado os seus velhos programas de educação, os erros cometidos por seus pais, os "deveres" e "obrigações" que foram se infiltrando no seu jeito de educar. Você é você mesmo e seu filho é ele mesmo. Vocês dois foram reunidos por Deus por algum motivo. Acredite, você e seu pequeno foram, literalmente, feitos um para o outro.
2. Ensine seu filho a desenvolver a concentração no pensar. Use como exemplo uma lanterna ou um foco de luz cortando a escuridão. Os pensamentos dele são como esse raio de luz atravessando o universo, juntando e iluminando os seus desejos. Essa imagem vai ajudar seu filho a entender que nossos pensamentos podem provocar grandes mudanças na nossa vida.
3. Busque o maravilhoso fora do trivial. Celebre junto com seu filho os fatos admiráveis de cada dia. Invente rituais, motivos para celebrar, encha sua casa com música, dance, caminhe na chuva. Se faltarem idéias, tome emprestadas algumas fantasias de seu filho. Com certeza ele vai adorar compartilhar esses tesouros com você.
4. As palavras são importantes. Use-as com cuidado. Em geral, elas refletem nosso jeito de estar no mundo. Institua em sua casa a regra de não permitir rebaixamentos nem zombarias. O deboche é um meio seguro de arrasar o espírito.
5. Faça de cada dia um novo começo. Por pior que tenha sido o dia de hoje, amanhã é um novo dia e ninguém sabe ou pode garantir o que ele vai trazer. Dê de presente para seu filho um dia cheio de possibilidades, um dia sagrado. Um dia para ser saboreado minuto a minuto, intensamente.
Para saber mais:

10 princípios da paternidade espiritual, desenvolvendo a alma de seu filho, Mimi Doe com Marsha Walch, Editora Cultrix

Educar com amor, Hugh Prather, Edições Paulinas
Parenting as a spiritual journey, Rabbi Nancy Fuchs, Jewish Lights Publishing


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Espiritualidade é essencial para o bem-estar das crianças


Um novo estudo sugere que a espiritualidade, e não as práticas religiosas, determinam o nível de felicidade das crianças.
Para tornar as crianças mais felizes, nós precisamos encorajá-las a terem um forte sentimento de valor pessoal, afirma o Dr. Mark Holder, da Universidade de British Columbia (Canadá) e seus colegas Ben Coleman e Judi Wallace.
O estudo dos três pesquisadores mostrou que as crianças que sentem que suas vidas têm significado e valor e que desenvolvem relacionamentos profundos e de qualidade - ambos medidas da espiritualidade - são mais felizes.
Parece, entretanto, que as práticas religiosas têm pouco efeito sobre sua felicidade. Estas descobertas foram publicadas na edição online do periódico científico Journal of Happiness Studies.

Espiritualidade e felicidade

Tanto a espiritualidade (um sistema interno de crenças em que uma pessoa se baseia para ter força e conforto), quanto a religiosidade (práticas, crenças e rituais religiosos institucionalizados) têm sido ligadas a um aumento na felicidade em adultos e adolescentes (veja Religião dá autocontrole necessário ao atingimento de objetivos e Eu tenho fé, logo, tenho menos dores).
Por outro lado, há pouquíssimas pesquisas com relação às crianças menores. Em um esforço para identificar estratégias para aumentar a felicidade das crianças, o Dr. Holder e seus colegas estudaram a natureza da relação entre espiritualidade, religiosidade e felicidade em crianças com idades entre 8 e 12 anos.

Aspectos pessoal e social da espiritualidade

Um total de 320 crianças, de escolas públicas e de escolas religiosas, completou seis questionários diferentes para que fossem mensurados sua felicidade, sua espiritualidade, sua religiosidade e seu temperamento. Os pais também avaliaram a felicidade e o temperamento dos filhos.
Os autores descobriram que as crianças que afirmaram ser mais espiritualizadas são mais felizes. Em particular, os aspectos pessoal (o significado e o valor da própria vida) e social (qualidade e profundidade das relações interpessoais) da espiritualidade foram fortes indicadores da felicidade das crianças. A espiritualidade explicou até 27% da diferença entre os níveis de felicidade entre as crianças.

Temperamento e religião

O temperamento das crianças também é um forte indicador de sua felicidade. Em particular, crianças mais felizes são mais sociáveis e menos tímidas. A relação entre espiritualidade e felicidade permaneceu forte mesmo quando os autores levaram o temperamento em conta.
Entretanto, de forma aparentemente contraditória, as práticas religiosas - incluindo ir à igreja, rezar e meditar - tiveram pouco efeito sobre a felicidade das crianças.
De acordo com os autores, "a melhoria do valor pessoal pode ser um fator chave na relação entre espiritualidade e felicidade." Eles sugerem que as estratégias voltadas a aumentar o valor pessoal nas crianças - tais como expressar gentileza com os outros e outros atos de altruísmo e voluntariado - podem ajudar a tornar as crianças mais felizes.

Artigo retirado do site:

http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=espiritualidade-essencial-bem-estar-criancas&id=3703