domingo, 30 de maio de 2010

Birras





Jesiane M. Fernandes

Mais ou menos aos dois anos de idade, a criança percebe a si mesma como um ser de vontades e desejos, que passa a se interessar por coisas diferentes do que fazia até então. É também nesta fase que maioria das crianças consegue deixar as fraldas, um marco muito importante na conquista de sua independência. Ela domina os movimentos de seu corpo, sua linguagem está a cada da mais desenvolvida, suas relações sócio-afetivas estão se expandindo para fora de seu círculo familiar. Enfim, está pronta para conquistar o mundo. Não é mais um bebezinho, é uma criança grande, com vontades que se voltam para o mundo exterior. Ela quer muitas coisas, como fazer só o que tem vontade, na hora que quiser, quer deixar tudo espalhado pela casa, que todos os brinquedos que estão na loja, e todos os "não" que ouvir serão encarados como uma barreira às suas vontades e necessidade de autonomia. O que ela faz? Reage às sanções da forma que vem utilizando desde que nasceu, com o método que conhece e que vinha funcionando até agora: choro e gritos. Ou recorre aos tapas e puxões, respostas imaturas ao que lhe contraria. Bem vindos aos chamados "terríveis dois anos".

Claro que esta idade é um referencial, e varia dependendo da realidade de cada família, mas certamente este comportamento acontecerá até os três anos, com maior ou menor intensidade. É a fase da teimosia, das birras e quando as palavras que mais ouviremos de nossos filhos é "não" ou "não quero". O mais importante é saber que é uma fase normal, apesar de difícil, e indica que nossa criança está crescendo adequadamente. O papel dos pais neste momento é auxiliar a criança a se controlar, mostrando aos poucos as censuras sociais, as regras de convivência, e mostra a ela a dura realidade de que na vida não podemos fazer tudo o que queremos o tempo todo. Aos poucos, a criança vai internalizando estes conceitos, compreendendo que é necessário respeitar limites, as vontades das outras pessoas, e suas necessidades. Ela precisa entender que não temos somente direitos, mas também muitos deveres no mundo.

O QUE FAZER?
• Nesta etapa, o que podemos chamar de educação social, ou educação para a vida, se intensifica. A família não pode ficar sem tomar atitudes, assustada com as reações agressivas da criança, ou achando bonito ele ter "personalidade forte". É o momento de educar esta criança para a vida no mundo, e se não for feito agora, no futuro ela certamente terá muitas frustração, pois o mundo mostrará que ela está errada;

• Firmeza e consistência nas decisões: "não" é "não". Claro que o que for possível, deve ser negociado, pois é este conceito que tentamos desenvolver com a criança, e não somente o não pelo não. E os adultos devem estar de acordo entre si, para não confundir a criança, ou passe a manipular os adultos, recorrendo ao pai quando a mãe diz Não, e vice versa.

• Para o momento da birra e teimosia, ou da crise séria, com direito a choro, gritos e a criança rolando pelo chão, existem algumas técnicas. As mais comuns, e que funcionam bastante:

- segurar a criança no colo, e retira-la do local, sem maiores conversas. No auge da crise, a criança está descontrolada e não vai negociar. Quando estiver fora do local, explicar, olhando para a criança e calmamente, que este comportamento não pode ser aceito em nenhum lugar, e que terá uma conseqüência, como não voltar mais ali. Se a promessa for cumprida, o fato não se repetirá;

- distrair a criança: na hora da teimosia, ou quando a situação está evoluindo para uma crise, tentar mostrar algo interessante, um brinquedo, um objeto, ou qualquer coisa próxima. Geralmente, o choro passa.

- se a criança não estiver descontrolada, e conseguir escutar, basta ficar em sua altura, e lhe dizer com firmeza que aquele não é o momento de fazer o que ela quer, ou que naquela hora, o adulto não pode atendê-la, e seguir o que estão fazendo, chamando sua atenção para coisas que ela pode fazer, como colocar as compras no carrinho, escolher produtos que pode levar, etc.

- sempre que possível, oferecer alternativas: "agora, aqui, o que você pode fazer (levar, escolher...) é isso ou aquilo. Com a criança tendo menos opções, e podendo participar, a crise é facilmente controlada.

• Lembre-se de que tudo acontece nesta fase porque a criança tem necessidade de ser e fazer, participar do mundo e suas ofertas. Possibilite situações em que ela possa fazer isso, sentindo-se importante e autônoma. Auxilie, e tente não tolher seu crescimento. Ela não é mais um bebezinho. E sim, é triste, mas faz parte da vida: começamos nesta hora a educar nossos filhos para o mundo, e não somente para nós.

• Não deixe que a opinião de pessoas desconhecidas lhe afete. Ignore os olhares de reprovação, ou aqueles que dizem: "ah, se fosse me filho...". Você conhece sua criança, e deve buscar o que é melhor para ela. Leia, busque informações sobre esta etapa, converse com quem tem filhos nesta idade, procure quem possa ajudar, crie sua técnica, e adote um mantra: "é normal e vai passar, é só manter a calma."

• Cuidado: por mais difícil e irritante que esta fase seja, saiba que ela passa, e que a criança precisa de compreensão, portanto evite sempre os castigos físicos, os tapas, beliscões e afins. Queremos que a criança entenda que a violência não é um comportamento aceitável, portanto, não podemos resolver a situação da mesma forma que ela. Explique e negocie sempre. Se você estiver perdendo o controle, respire fundo e afaste-se. Quando sentir-se melhor, chame a criança e converse. Mas nunca deixe uma crise sem resposta, ou a criança vai se acostumar a não ter conseqüências para seus atos.

Siga as dicas e torne seu filho e sua família mais felizes! Boa Sorte!


Jesiane M. Fernandes

Pedagoga especialista em Psicopedagogia.

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