domingo, 5 de setembro de 2010

Fases difíceis no desenvolvimento infantil





Se você olha para seu filho e pensa: “quando bebezinho, ele era tão fofinho que eu tinha vontade de comê-lo. Hoje, eu me pergunto, porque eu não comi?”, é hora de entender porque certas etapas do desenvolvimento infantil são mais difíceis.

Se o filho está apresentando comportamentos que desafiam a paciência dos pais, pela frequência e insistência com que ocorrem, não é de admirar-se que muitas vezes estes quase percam o controle e fiquem ansiosos para que esta fase seja substituída por períodos mais tranquilos.

Nestas fases, na maior parte das vezes, as sugestões não são aceitas. Se os pais querem ir embora, a criança quer ficar. Se eles dizem que está frio, ela insiste em não se agasalhar. Além disso, a criança se considera o centro do universo: não há nada mais importante e urgente do que as suas necessidades, idéias e pensamentos. Contrariá-la significa a certeza de chuvas e trovoadas.

Nestes momentos os pais estão sendo colocados à prova para estabelecer de forma justa e equilibrada a permissão para a conquista de uma necessária independência, sem descuidar-se de impor alguns limites imprescindíveis. Mas conciliar esta relação e fazer com que ela seja aceita pelo filho é uma tarefa que em certos momentos é difícil e que exige muita paciência e negociação.

Estas fases se manifestam de forma mais intensa em certos momentos porque estes são períodos de desequilíbrio no processo de desenvolvimento, durante os quais muitas características estão alterando-se rapidamente e a assimilação destas mudanças são difíceis. Elas são típicas da criança em por volta dos dois anos de idade e no início da adolescência.

Descobrir-se com novas habilidades, saber exatamente o que fazer com elas e até onde pode ir com segurança, são desafios a serem enfrentados pela criança e pelo adolescente. Os padrões antigos de comportamento já não funcionam mais, entretanto, os novos ainda não foram definitivamente consolidados.

Tanto a criança de dois anos como o jovem adolescente estão na busca de mais independência, procurando caminhos para estabelecer suas próprias identidades. Quando os pais se conscientizam da necessidade do filho conquistar sua vida própria, e que para isto alguns períodos difíceis de transição são necessários, terão mais tranquilidade para enfrentarem os desafios. E todos, pais e filhos, estarão prontos para vivenciar novas e mais tranquilas etapas.

Crescimento e desenvolvimento confundem características transitórias de determinados estágios do desenvolvimento dos filhos como definitivas.

O período da infância é subdividido em fases ou estágios, cada um deles com características próprias, durante os quais a criança vê o mundo e age de modo diferente, interage com as pessoas e o ambiente de forma diferente e está preocupada com questões diferentes.

Diversas linhas e teorias definem as fases ou estágios do desenvolvimento infantil, desde as que analisam o desenvolvimento neuro-psico-motor até aquelas clássicas desenvolvidas por autores como Freud, Piaget, entre outros.

Em linhas gerais, os estágios mantêm uma sequência estável, nenhum é omitido, cada um é uma sequência do anterior e base para o seguinte, sendo que, apesar de cada fase ter uma idade aproximada durante a qual deve ocorrer, cada criança tem o seu próprio ritmo. Portanto, mesmo considerando que a sequência é sempre a mesma (todos passam por todas as fases), há variações individuais que dependem de características pessoais, estímulos, etc.

Conhecer as características de cada fase ajuda a identificar o que é normal e os desvios da normalidade. Assim o hábito do bebê levar tudo o que estiver ao seu alcance à boca, as crises de brabeza, a contestação dos limites, a insistência em responder todas as perguntas com um “não”, vivenciar fantasias, manipular os órgãos genitais, manifestar uma curiosidade insaciável evidenciada pelo insistente “por quê?”, gostar de fazer coleções, entre tantas outras, são características transitórias e serão abandonadas na fase seguinte.

Um exemplo da transitoriedade destas características e da confusão entre a normalidade e o distúrbio é a agitação da criança em torno de dois anos de idade. De forma equivocada esta hiperatividade, normal e saudável, é às vezes classificada como distúrbio e algumas destas crianças até recebem tratamento!

Portanto, aqui o velho ditado “não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe” é uma realidade. As fases difíceis irão passar com o tempo, mas ao mesmo tempo a criança cresce, cria asas e voa...


Jorge Montardo



Médico Pediatra / Mestre em Educação

Fonte: Aprendendo a vida: Divulgue, reproduza, mas plágio não!


 

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