domingo, 26 de setembro de 2010

Primeiras letras parte I






Aos cinco anos completar a alfabetização. É muito cedo? É o esperado? Não é de agora que as dúvidas angustiam os pais, mas a mudança curricular que aumentou o número de anos do ensino fundamental e antecipou para os seis anos a entrada na primeira série, ou seja, na chamada educação formal, colocou mais água na sopa de letras da alfabetização infantil.

"Há algum tempo, escolas particulares já aceleram a alfabetização. Com a mudança de lei do ensino fundamental, somou-se a pressa anterior a um equívoco sobre a entrada da criança nessa fase escolar. É como se a antiga primeira série (que as crianças cursavam a partir dos sete anos) tivesse de ser feita mais cedo", diz Vitória Regis Gabay de Sá, coordenadora pedagógica da escola de educação infantil Jacarandá, em São Paulo.

O problema, segundo Gabay de Sá, é o entendimento do que seja a alfabetização. "A produção escrita é resultado de um processo que começa muito antes. A criança vai construindo competências e adquirindo condições físicas, emocionais e cognitivas para representar por meio da escrita, mas querer esse resultado mais cedo "atropela" o processo e aí é que está o equívoco. Aprender antes não significa aprender melhor."

Exigência social

Cristina Nogueira Barelli, mestre em linguística e coordenadora do curso de pedagogia do Instituto Singularidades, de São Paulo, diz que as adaptações curriculares surgem por uma exigência natural da sociedade. "Não é a escola que quer alfabetizar antes, é o mundo contemporâneo. A escrita está posta para a criança, e ela se permite alfabetizar mais cedo."

Barelli acredita que, quando os pais pensam em alfabetização precoce, eles tomam como padrão a idade em que eles próprios se alfabetizaram e ficam angustiados por acharem que a criança está se escolarizando cedo demais.

"Mas [a alfabetização] pode ser bem-vinda mais cedo, desde que não seja colocada como uma expectativa de sucesso ou fracasso no desempenho escolar."

Mundo letrado

A premissa para iniciar mais cedo o processo é que, atualmente, as crianças têm muito mais contato com o mundo letrado, "não só na escola mas também em casa, na rua, no shopping, na banca de jornal, no computador", diz Adília Cristófaro, orientadora pedagógica-educacional.

Segundo Cristófaro, o processo começa no início da educação infantil e se estende até depois da primeira série da educação fundamental. Desde os três anos, práticas de leitura e escrita permeiam as atividades, de forma adequada a cada faixa etária. "São lidas histórias para as crianças, o nome delas é escrito nas folhas dos trabalhos etc.", conta a educadora.

Gabay de Sá lembra que o processo leva tempo e que não é feito apenas de atividades diretamente relacionadas à linguagem escrita. Ela cita como exemplo atividades corporais, que trabalham noção espacial e coordenação motora. "São habilidades necessárias para [o ato de] escrever. Mas, às vezes, os adultos acham que é só "brincadeira"." Para a educadora, não é somente na hora em que a criança está trabalhando com papel e lápis que ela está se preparando para a alfabetização.

Fonte:

Folha de S. Paulo


Edição: F.C.

18.06.2009
 

2 comentários:

Elaine Gaissler disse...

De fato a alfabetização da criança tem tudo a ver com seu mundo, com seu contato com ele, mas o chato mesmo é perceber que infelizmente alguns "responsáveis" permitem que a leitura das crianças seja feita em um "livro" impróprio para elas.
Seria tão bom que elas assistissem aos melhores programas de tv, ouvissem um vocabulário de amor, e fossem apresentadas à boa literatura por seus exemplos!
Legar tamanha responsabilidade à escola é no mínimo inconsequente.

Anônimo disse...

Não sei, só sei que meu início escolar, sem pré até, era mais intenso, melhor e eficiente. Minhas filhas estão com dificuldades, mesmo eu ajudando em casa. O ensino na escola está deixando muito a desejar.
Beijos na alma!

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