quinta-feira, 15 de julho de 2010

Férias é tempo de brincar e aprender




Amanda Miranda

Dona Claudete Silva observa de perto a criançada jogando bola no pátio de casa, no Morro do Amaral, uma ilha na baía da Babitonga, na área rural de Joinville. O chão é de terra batida, mas o cuidado em mantê-lo sempre em ordem tem uma justificativa. Ainda mais a partir de hoje, quando começam as férias escolares.

— A gente já foi criança um dia, né? Sabemos como é. Precisam de espaço para brincar.

Mesmo reconhecendo que as brincadeiras de hoje são bem diferentes daquelas da sua época, ela incentiva os netos a evitarem o quarto como refúgio.

— Só em dia de chuva —, diz.

Por causa disso, a casa de dona Claudete parece ter saído de uma caixa de memórias. Tatiane de Oliveira Silva, de sete anos, lidera a partida de futebol da turma, mas também não perde a chance de soltar pipa e jogar peão.

De pés no chão, ela e os amiguinhos vivem uma realidade bem diferente da que existe nos grandes centros urbanos, movidos pela insegurança.

— Dá gosto de ver a criançada brincando como a gente brincava —, diz a saudosa Claudete.

A cerca de oito quilômetros dali, no bairro Petrópolis, Nicolas Cardoso Lauxen, de nove anos, prefere se divertir de outra forma. Ele é fã de jogos eletrônicos e de computador. Passa horas fazendo pesquisas e se divertindo no mundo virtual.

No video game, gosta dos jogos de futebol e tenta executar, em campo, as estratégias dos times vencedores. Mas também não dispensa um bate-bola no mundo real.

Na teoria, qualquer um poderia pensar que Nicolas e Tatiane vivem em mundos diferentes. Mas, na prática, eles são apenas crianças que gostam de brincar, em uma infância modificada pela modernidade.

— A infância não tem mais uma formatação. Temos diversos tipos. O que vai fazer a distinção entre uma e outra é o meio em que a criança vivem —, observa a professora e pesquisadora em cultura infantil, Sônia Regina Pereira.

Em cenários tão diferentes, algumas brincadeiras são imortais. A pequena Júlia Aparecida Ramos, por exemplo, gosta de brincar de casinha e de boneca. Passa horas alisando a “filhinha”, que embala com todo o cuidado do mundo. O passatempo também foi uma realidade na vida da mãe, Jucélia Miranda, e possivelmente vai sobreviver a muitas gerações.

O fenômeno pode não ter apenas uma explicação, mas a forma como a criança brasileira se distrai foi destrinchada com números na pesquisa “A Descoberta do Brincar”, publicada no Brasil em 2007.

O quintal de casa e o quarto são apontados como os lugares preferidos nos momentos de lazer. Já como instrumentos, a TV e o DVD lideram em disparada as estatísticas, embora a bolinha de gude e as cantigas de roda sobrevivam, assim como as bonecas.
De acordo com Sônia, qualquer brincadeira que trabalhe com o imaginário e com o movimento vai contribuir com o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança.

— Os pais devem saber que brincadeira é um momento de aprendizagem. As experiências geradas dessa forma incidem profundamente no desenvolvimento infantil, tanto de forma externa, quanto de forma interna —, destaca.

Texto extraído do site:

http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense

0 comentários:

Postar um comentário

Que bom que você veio escrever na lousa de comentários.
Obrigada!