sábado, 10 de julho de 2010

O polvo não é torcedor




O maior sucesso desta última semana de Copa do Mundo é o polvo vidente. Num aquário alemão, este cidadão inglês até agora acertou todos os resultados dos jogos, mesmo que eles fossem desfavoráveis aos dois países pelos quais ele poderia torcer.

Ainda falta o resultado da final, mas, se ele acertar tudo, vai ficar definitivamente provado: esse polvo não é torcedor. É puro pensamento, e por isso acerta sempre. Se uma daquelas bandeirinhas que enfeitam o aquário fizesse o coração desse polvo bater mais forte, ele erraria na certa!

Os acertos do polvo alemão chamam a atenção para uma das questões mais complicadas do universo astrológico: as previsões e as expectativas que se criam em torno delas.

Na área do pensamento puro, dois mais dois vai ser sempre quatro. Mas, quando a emoção e a sua filha predileta (a imaginação) entram em cena, a soma pode dar seis, ou três, ou mil.

Quando alguém procura um astrólogo, quer, antes de qualquer coisa, previsões. O desejo de prever o futuro está presente em toda a história da humanidade. Um desejo legítimo, que a astrologia teria obrigação de atender.

Se o movimento dos astros é previsível, os fatos que eles determinam também deveriam ser. Os fatos? É aí que a porca torce o rabo. A astrologia não prevê fatos, prevê a qualidade do tempo.

Quando, num mapa astral, aparecem os chamados “bons trânsitos”, tanto os astrólogos como os seus clientes são levados a acreditar que “só vai acontecer coisa boa”. Mas “coisa boa” é, na verdade, um disfarce para “aquilo que eu quero que aconteça”. Para quem está apaixonado, coisa boa é ser amado de volta. Para quem tem menos dinheiro do que gostaria, coisa boa é um bom contrato, ou um prêmio de loteria. Para quem torce por um time, é ele ser campeão.

Contudo, o sentido de “bom” do céu nem sempre coincide com o nosso “bom”. “Bom” pra quem é humano quer dizer “agradável, prazeroso”. “Bom” para o céu quer dizer simplesmente que, seja lá o que for que a vida vá trazer, a pessoa vai ser capaz de lidar bem com a situação. Ou seja, os bons trânsitos astrológicos falam de uma coisa que os filósofos chamam de “bem”.

Se Júpiter, o mais benéfico de todos os planetas, vai se encontrar com um planeta importante, como o Sol e a Lua de um mapa astral, é perfeitamente legítimo afirmar que ela vai ficar “bem”, mas não que vai acontecer aquilo que ela quer tanto que aconteça.

Às vezes, o céu nos oferece presentes surpreendentes. Quem esperava amor recebe dinheiro, quem esperava dinheiro recebe felicidade...

Voltando ao polvo e à Copa do Mundo, tudo isso é apenas o reconhecimento de que uma astróloga, incorrigivelmente torcedora, acreditou que, se o mapa astral do Dunga estava bom durante e depois da Copa, estava claro que o Brasil ia ser hexacampeão.

Doce ilusão. O céu era do Dunga, e não nosso. Só o que ele dizia é que, mesmo derrotado, demitido, desacreditado, o cabeça-dura do nosso ex-treinador saiu dessa copa contente consigo mesmo, convicto de que fez tudo certo.

Bom para ele, e bom para quem torceu junto. Porque quem se iludiu e acreditou numa vitória que não veio torceu com mais alegria e se divertiu muito mais. Pelos menos até o primeiro gol da Holanda...

Monica Horta é jornalista e astróloga

Texto extraído do site:
http://delas.ig.com.br/

0 comentários:

Postar um comentário

Que bom que você veio escrever na lousa de comentários.
Obrigada!