terça-feira, 27 de julho de 2010

Quem morreu? Como é morrer?




Por Kátia Regina Beal Rodrigues

Outros dois conceitos citados por Piaget que parecem fundamentais para o desenvolvimento do conceito de morte são a não-funcionalidade e a universalidade. A não-funcionalidade diz respeito à compreensão de que as funções vitais cessam na morte, enquanto a universalidade tem a ver com a compreensão de que todas as coisas vivas morrem, ou seja, de que a morte é um evento inevitável (Nunes, et all, 1998).

Wass (1989) citado por Bromberg (2000) identifica a relação dos componentes irreversibilidade, não-funcionalidade e universalidade com o conceito de morte. Ela constata a existência de três etapas: na primeira (até 5 anos) não há noção de morte definitiva, sendo esta compreendida como separação ou sonho e como um evento gradual e temporário. Na segunda etapa (5 a 9 anos), há uma forte tendência a personificar a morte, que é percebida como "alguém" que vem para levar as pessoas. É compreendida como irreversível, porém evitável, e também, como algo que acontece a todos e, sobretudo a ela mesma. Somente na terceira etapa (9 a 10 anos), a criança reconhece a morte como cessação das atividades do corpo e como inevitável.

Reforçando o conceito de personificação, Kübler- Ross (1998) afirma que crianças consideram a morte como um homem ou um lobisomem que vem para levar as pessoas. A morte está ligada a uma ação má, a um fato medonho, a algo que clama por recompensa ou castigo. "Os conceitos de irreversibilidade, não-funcionalidade, universalidade e personificação estão relacionados com o nível de desenvolvimento cognitivo. Em geral, parece que a maioria das crianças saudáveis têm o conceito de morte entre os 5 e 7 anos, visto que é nesta idade que a maior parte delas faz a transição do pensamento pré-operacional para o operacional concreto. Entretanto, a cultura pode exercer grande influência na formação dos conceitos em geral e do conceito de morte em particular". (NUNES, 2004, p.16).

IMPACTOS DO LUTO INFANTIL

Segundo Bromberg (2000, p. 60) o luto infantil é frequentemente considerado um fator de vulnerabilidade a muitos distúrbios psicológicos na vida adulta. Esses distúrbios vão desde a excessiva utilização de serviços de saúde, por tê-la com frequência debilitada, até aumento no risco de distúrbios psiquiátricos.

Bowlby (1981) citado por Bromberg (2000) diz que a curto prazo, ainda na infância, há visíveis consequências da perda com má resolução. Alguns dos traços da má elaboração são muito semelhantes aos encontrados em casos de luto de adultos, ou então, de ausência de luto, como ansiedade persistente, medo de outras perdas (principalmente de um dos pais), medo de morrer também, esperança de se reunir ao morto, desejo de morrer, culpa persistente, hiperatividade, cuidados compulsivos, euforia e despersonalização. "A intensidade com que esses traços vão tomar forma está estreitamente vinculada às condições do ambiente, quanto a serem favoráveis ou não a um curso saudável do luto. É importante assinalar que, as condições do funcionamento familiar contribuem para a qualidade da elaboração do luto". (BOWLBY, 1981 citado por BROMBERG, 2000).

Bromberg (2000) acrescenta que para o psiquismo infantil a relação com a pessoa morta dá o tom quanto a uma evolução adequada ou não para a experiência da perda e a resolução do luto.

As questões de enlutamento, à medida que afetam o comportamento da criança, mudando o curso de seu desenvolvimento devem ser avaliadas com extremo cuidado, para que possa ser delineada a intervenção necessária. Se a elaboração do luto não for feita adequadamente, poderá causar sérios comprometimentos a curto e a longo prazo. A conclusão de uma conversa franca com uma criança, sobre a morte, sem medo, tem sempre um tom positivo, só o fato de estar perto, falando a respeito e ouvindo, já é positivo. Todos os seres humanos aceitam a morte de uma forma singular. Devemos respeitar, no mínimo, a maneira que as crianças encontram para superar o momento da morte. Elas têm perguntas e buscam o conhecimento, e nós, adultos que muitas vezes, acreditamos que sabemos muito, ouvimos delas as melhores respostas para as perguntas que não saberíamos responder

Texto extraído do site:



1 comentários:

Fernanda Reali disse...

Gostei e vou retuitar. Achei útil!

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